Ao estimado amigo Dimas Franco
A importância em contar estórias não está em simplesmente ouvir o passado, agüentar os mais velhos, ou os mais “experientes” como assim NÓS, os mais vividos, preferimos. Acredito haver uma razão mais forte, mais impactante para isso. E uma delas, a qual tem me surgido esguia é a questão da identidade pessoal. Eu explico melhor.
- Antiga fábrica do Grupo Fazendeira em Ituiutaba, atualmente desativada. A foto ilustra de modo saudosista a pergunta: "o que foi antes de nós?" - Foto de Anésio Neto
Ainda que eu seja um velho rabugento e ranzinza – acredito que para qualquer criatura com menos de 30 anos –, tenho amigos. Alguns até mais velhos (pois busco manter a dignidade ao ouvir conselhos e estórias dessa gente destemida e perturbada para com os tempos idos; se bem que tenho que assumir que nem todas tenham congruência com a minha realidade!). E uns desses aí têm me perguntado por que não tenho dado tanto as caras pelas ruas. É fácil: as ruas não mais emanam aquele espírito de novidade que antes tinham, é claro a “novidade” se sobrepõe cada dia mais ao sufocado basalto das ruas. Mas que ‘novidade’? Essa desenfreada busca pelo novo frente à sociedade que nos deixa atordoadamente entediados. Vertigem de velho... Calma!
- Uma das coisas que não são "novidades" na cidade de Ituiutaba e que apenas precisa de olhares atenciosos, o crepúsculo - foto de Rogério Costa
Caro leitor, peço-lhe licença agora e o convido para entrar na espessa nuvem da História, o que eu deveria ter feito antes de ter apresentado isso tudo... Por meio da experiência social que vamos obtendo ao longo de nossas vidas, as memórias se consagram como fragmentos de existência que projetam o que somos no presente. Revoltas em poeira e sangue aos poucos vamos as apagando, ou apenas deixando de lado. Se bem que o Alzheimer tem sua cota na fatura também... Imagine o sofrimento de uma pessoa que não consegue reconhecer um rosto, um outro, seu semelhante? Sabe-se lá se é um semelhante! Se é assim com uma pessoa imagine com algum acontecimento que deixou sua devida marca? Acredito que a consciência que ela terá de seu passado é de um mero lampejo enfraquecido de vida. A ausência de uma identidade.
Bom, usando o típico exemplo do idoso que sofre com o Alzheimer, que em outro texto já bem dei o remédio para a sua devida prevenção, acredito que podemos trasnpô-lo para a vida normal, essa sem a ameaça de qualquer doença que faça nossa identidade ser mero fragmento. Uma pessoa que não conta estória ou é incapaz de reconhecer alguma não reconhece a sua própria história. Se bem que eu desconheço alguém que não tenha algum fato sequer a ser narrado. Não existe otário a ponto de não saber contar um fato! Mas existem otários suficientes que não sabem sequer a origem de seus pais ou nome. Assim como não sabem que a origem do nome “Ituiutaba” provém de antigas lendas Caiapós, as quais derivam de outras lendas mundo afora, sobretudo as de origens Guaranis, Nambiquaras e até mesmo Cherokees. E por ai vai... O verdadeiro é o que fazemos de nossos feitos. O que vale é o que vivemos, o que experenciamos.
Leitor, jovem leitor, aí vai uma dica pertinente: a importância em contar estória não está em simplesmente deixar que um velho rabugento, sim, eu mesmo, dite o que você deve fazer quando o ‘chato’ de seu avô começa a te contar estórias que só aconteceram na cabeça dele; mas está em deixar-se afetar por uma parcela de existência que em algum momento, nesse ato de narrar, encontra a nossa. São experiências compartilhadas, e que juntas pelo ato modelam esse intricado tecido que é a História dos feitos humanos.
Sem mais delongas
Alcibíades Nihil
NESTE SÁBADO!
Há uma semana