Ao falar de literatura ‘beatnik’ – movimento artístico de contracultura iniciado nos EUA após o fim da Segunda Grande Guerra, o qual subscrevia um estilo de vida oposto ao “american way of life” – muitas pessoas cometem o pequeno erro de associar ao movimento o nome de Charles Bukowski. Digo “erro” pelo fato de que o próprio autor negou diversas vezes, seja em entrevistas, seja pela voz de seu alter ego Henry “Hank” Chinaski, qualquer semelhança com Jack Kerouac, William Burroughs – o qual o velho Hank detestava – e Allan Ginsberg. Basta abrir O uivo e outro poemas, livro de Ginsberg, que já sacamos logo de cara uma das características do movimento: a experimentação literária, a qual também era realizada sob efeito de entorpecentes.
Discussões de movimentos à parte, essa pequena introdução tem o intuito de apenas ressaltar a importância da escrita literária de contracultura nos Estados Unidos. Não só um movimento fundado em porres monumentais, essa ‘reviravolta’ lançou mão de escritores e críticos literários que até então não eram tão respeitados nas universidades estadunidenses, fato esse que contribuiu para o respeito que ia se formando para com aqueles escritores.
Ainda vivo, Bukowski alcançou muito prestígio com seus contos e poemas que retratavam da vida marginalizada e difícil de grande parcela dos esquecidos pelo “modo de vida americano”. Grande parte do dinheiro que arrumava para bebidas provinha de leituras feitas nessas universidades. O fato é que, na medida em que ficcionalizava sua própria vida, desde seus empregos de curta duração, até mesmo á conturbada vida pessoal regada a muito uísque e sexo com mulheres de todos os lados do país, Bukowski ia construindo um estilo próprio, cheio de pensamentos sinceros sobre a vida, e arranjando um lugar para seu nome.
Ler seus livros, em minha opinião, é um grande desafio, não pelo seu estilo, haja vista que a utilização de períodos curtos e diretos torna a leitura muito gostosa e clara. Mas, acredito que as pessoas, num primeiro olhar, taxa muito facilmente seus escritos de “sem escrúpulos” e não possuidor de um “estilo louvável”. A dificuldade em resgatar ouro em superfícies turvas é grande. Para isso, é-nos necessário ir mais fundo, principalmente ao ler seus escritos. O pensamento se envolve por uma película de verdade, visto sob os olhos de quem os forjou no âmago de cada partícula de existência. A vida pulsa em seus escritos.
Pretendo, pois, fazer uma resenha de três filmes que buscaram levar às telas sua vida e seu olhar intenso sobre a vida. O primeiro, cujo roteiro é da autoria de Bukowski, é de 1987 “Barfly”. O segundo, de 2005, mas que só chegou aos cinemas brasileiros em 2006: “Factotum”, baseado em seu romance de mesmo nome. O terceiro, de 1981: “Crônicas de um amor louco”. Espero, assim, resgatar a essência dos escritos transcritos nos filmes.